A bailarina e coreógrafa contemporânea francesa Fanny Vignals pesquisa há 18 anos as danças do candomblé. O projeto “La Bouche du Monde” (a boca do mundo) explora os saberes gestuais e as corporeidades das danças de Exu, divindade da comunicação, do imaterial e da sexualidade.
No contexto atual de intolerância contra as religiões de matrizes africanas no Brasil, a coreógrafa acredita no movimento de desconstrução do imaginário colonial relacionado a essa figura que foi muito tempo estigmatizada por seu caráter subversivo. Esse projeto tem também participar a um melhor conhecimento da cultura afro-brasileira no universo da dança na França.
A partir de um trabalho de coletânea de danças em colaboração com pessoas do candomblé e do mundo artístico-pedagógicos do Estado da Bahia, busca-se evidenciar os elementos transversais que alimentam a dança: cinestesia, imaginário, esferas rituais, mitológicas, histórico-sociais e também políticas e identitárias.
Nesta abordagem interdisciplinar com a criação de elementos de restituição (escritas, vídeos e partituras de dança) Fanny Vignals colabora com a antropóloga da dança Laura Fléty e o videasta e programador em dança Maxime Fleuriot. Para apoiar suas próprias ferramentas de análise do movimento ela recorre às competências da francesa Johanna Classe, analista do sistema Benesh, e da brasileira Lenira Peral Rengel, analista do movimento Laban. Esta parte do projeto consista em um trabalho sobre as qualidades de movimento, a respiração, a organização do corpo, a relação ao peso, apoios e espaço, bem como o uso da improvisação.