Fevereiro – março (abril) de 2020

@Maxime Fleuriot. Com Licia Morais, bailarina, pesquisadora e coreógrafa – Salvador.

// Tradução em processo //

Fanny Vignals voltou em fevereiro, essa vez com os seus colaboradores: a antropóloga da dança Laura Fléty, o videasta e programador em dança Maxime Fleuriot e a anotadora em dança Johanna Classe (sistema Benesh). Beneficiou-se também da expertisa da analista do movimento brasileira Lenira Rengel (Laban), professora da Escola de Dança da UFBA. 

Ce temps de travail débute au coeur du carnaval avec la sortie, le Mercredi des Cendres, au Pelourinho à Salvador du Bloco de Eshou de Raimundo Bouzanfraim. Cette entité appelée Eshou n’est pas un orisha mais un eshou-esprit issu d’autres pratiques religieuses. Et Raimundo Bouzanfraim a la spécificité d’être un eshou français! Mais um cruzamento…

Mais l’orisha messager est tout de même honoré à travers le rituel du pàde qui précède un xiré, évocation chantée et dansée de tous les orishas. Au delà de l’acte carnavalesque, il s’agit ici avant tout d’un acte politique de la communauté afro-brésilienne en pour affirmer que “Exu não è o diabo”.

Ritual do pàde na encruzilhada da Rua das Laranjeiras e da Rua Inacio Acciole antes da procissão carnavalesca do Bloco de Exu de Raimundo Bouzanfraim – Pelourinho – Salvador.

A Festa Ajòdun pra Exu do dia 7 de março na Casa do Mensageiro e sua preparação constituiram o coração deste projeto, um momento muito forte pela equipe toda. Momento de troca também, o grupo oferendo uma cabra a Exu desta ocasião.

Exu dança horas, em todo canto, endurant, virtuose, communicatif et précis. A colaboração com o Pai Rychelmy e sua comunidade nos permitiu entender ainda melhor o sentido profundo da dança no sistema religioso e esclareceu as questões ligadas a noção de transmissão, de linhagem e de organização da liturgia das danças. 

Trechos da Festa Ajòdun pra Exu – Imagens @Maxime Fleuriot – 7 mars 2020

O grupo também trabalhou com o Pai Edgar Biy, no Ilé Axé Barabo, Camaçari também, filho de Exu, feito pelo Pai Balbino no Ilê Axé Opo Aganju hà mais de 20 anos. O Exu de Edgar sendo também um incrível dançarino, esse encontro abriu uma outra perspectiva no movimento desse orixá em termo de qualidade de movimento e permitiu enxergar melhor a porosidade que existe entre o universo dos orixás e outras práticas espirituais.

Pai Edgar de Exu – Ilé Axé Barabo – Camaçari © FV – 2020

Fanny e a antropóloga Laura Flety entrevistaram alguns dos outros raros filhos de Exu em Salvador, o que começou a revelar as singularidades das trajetórias de iniciação a essa divindade e a dança dela.

Foram consultados também dois excelentes professores e artistas especializados na transmissão das danças dos orixás: Jose Ricardo dos Santos e Nem Brito da Silva, o que deu a possibilidade de enxergar melhor o quanto numa mesma tradição a personalidade de cada um e de cada linhagem enriquece a diversidade, como que o código não impede a identidade de cada um se revelar, através nem seja só do contato do pé com o chão. 

L’apport de Lenira Rengel, notre collaboratrice brésilienne en analyse du mouvement est très précieux. Elle nous apporte sa vision du mouvement mais nourri aussi notre réflexion sur les différents positionnements dans les milieux artistiques et religieux au regard des débats actuels autour de la notion d’appropriation culturelle.

De magnifiques cérémonies nous ont permis d’observer, sentir, comparer, écouter, percevoir, être subjugué·e·s… notamment à la Casa de Oxumarê pour sa fameuse Festa pour Eshou ou encore chez le babalorixá-anthropologue Julio Bragá au Terreiro De Jagun, et à l’Ilê Axé Opô Dangbálá.

Volta em Paris o dia 16 de março © Maryll Abbas – 2020